Marca Passo no ímpeto da ampliação das Renováveis
Nos últimos meses, uma série de decisões por parte das principais companhias de óleo e gás, além dos governos das maiores economias globais, têm sinalizado uma mudança de rota na transição energética. O entusiasmo com as fontes renováveis parece perder força, cedendo espaço a uma retomada dos investimentos em petróleo, gás natural e até energia nuclear — fontes consideradas mais estáveis e previsíveis em termos de geração e amortização de infraestrutura.
Grandes players do setor anunciaram cortes drásticos em seus compromissos ambientais. Algumas empresas revisaram para baixo suas metas de capacidade instalada em energias limpas, suspenderam projetos de eólica offshore e reduziram os investimentos em hidrogênio verde. A justificativa é pragmática: diante da instabilidade regulatória, da incerteza no retorno financeiro e das limitações tecnológicas atuais, o foco retorna às fontes convencionais, cuja infraestrutura é madura e amplamente testada.
Paralelamente, os governos dos Estados Unidos e da China, antes grandes incentivadores da energia limpa, recuaram em seus compromissos. O presidente norte-americano suspendeu novos licenciamentos no segmento de eólica offshore, enquanto o governo chinês cortou de forma expressiva os subsídios às fontes solar e eólica, alegando a necessidade de reestruturar a precificação da energia limpa. Essas medidas desmontam pilares importantes da expansão renovável e empurram o setor energético global a reavaliar suas bases.
Essas decisões têm impactos diretos na estabilidade do sistema elétrico. A transição energética, embora necessária frente às urgências climáticas, exige infraestrutura resiliente, planejamento de longo prazo e segurança de abastecimento — fatores que as fontes convencionais ainda oferecem com mais consistência. A dependência exclusiva de fontes intermitentes, como sol e vento, pode comprometer a confiabilidade do sistema, especialmente em períodos de alta demanda ou escassez climática.
Mais do que um retrocesso ambiental, o retorno aos investimentos em petróleo, gás e nuclear representa uma tentativa de reequilibrar o sistema elétrico diante de pressões econômicas, sociais e operacionais. Em vez de demonizar as fontes convencionais, é hora de reconhecer que a estabilidade energética também é um pilar da sustentabilidade. O caminho talvez não seja abandonar as renováveis, mas integrá-las de forma inteligente em uma matriz energética diversificada, segura e financeiramente viável.