O Paraguai, Data Centers e a redução dos excedentes de Itaipu
O Paraguai vive um momento de rápida expansão em seu consumo de energia. Empreendimentos de data centers para inteligência artificial (IA) e mineração de criptomoedas vêm impulsionando a demanda do país. Dados recentes da Itaipu Binacional mostram que o consumo do Paraguai cresceu 18% em 2024 e já atinge cerca de 31% da parcela de produção que lhe cabe. É uma mudança estrutural com implicações importantes para o Brasil.
De acordo com publicações especializadas, o Paraguai vem se consolidando como um polo emergente para data centers, atraindo investimentos devido à oferta competitiva de eletricidade de origem renovável. Entre os principais operadores destacam-se a HIVE Digital Technologies, com um complexo de 300 MW em Yguazú e a Penguin Infrastructure, com operação de cerca de 100MW, com projetos de maior porte em planejamento. A X8 Cloud anunciou a implantação de outra central que operará, em sua fase final, com 500 MW. Esses empreendimentos têm exigência de fornecimento firme para os processadores e refrigeração.
O crescimento acelerado do consumo de energia no Paraguai, impulsionado pela instalação de grandes data centers e outras cargas intensivas, tende a alterar de forma significativa o balanço energético entre os dois países. Como a energia gerada por Itaipu é compartilhada igualmente entre Brasil e Paraguai, qualquer aumento expressivo da demanda paraguaia reduz diretamente a parcela disponível para o sistema brasileiro — justamente uma das principais fontes de energia firme e estável do país. Esse movimento pressiona o planejamento energético nacional, evidenciando a urgência de reavaliação do planejamento da expansão de geração, dando prioridade a usinas de base, como hidrelétricas com reservatórios, térmicas flexíveis ou até soluções híbridas com armazenamento, capazes de garantir a segurança do suprimento.
A continuidade da política de incentivos às fontes intermitentes, como eólicas e solares, sem a devida compensação por novas usinas de base, amplia os riscos estruturais para o atendimento do consumidor brasileiro. Essas fontes, por sua natureza, têm produção variável e não despachável, impondo custos crescentes de reserva de capacidade e implantação de outras tecnologias que tragam flexibilidade ao sistema elétrico. Com a redução da energia firme proveniente de Itaipu, essa dependência de geração intermitente pode comprometer a confiabilidade do suprimento e elevar tarifas, uma vez que o sistema precisará manter capacidade ociosa para garantir estabilidade.
Por fim, há uma questão estratégica: o modelo de infraestrutura energética precisa se ajustar rapidamente para absorver essa nova demanda. Se esses ajustes não forem feitos considerando que contaremos somente com 50% da geração de Itaipu, o Brasil poderá se ver em situação de exposição a custos marginais elevados e riscos de abastecimento em um prazo relativamente curto.