A crescente demanda por energia define o retorno das nucleares
A crescente demanda por energia elétrica no mundo, os Estados Unidos voltam a despontar na liderança da expansão da demanda por energia elétrica no mundo. A Agência Internacional de Energia (EIA) prevê um aumento significativo na demanda global de eletricidade nos próximos anos, impulsionado pela eletrificação das economias e pela crescente demanda de data centers. A China e a Índia, que lideravam o crescimento nos últimos anos, devem apresentar taxas mais moderadas, enquanto os Estados Unidos entram em uma fase de crescimento acelerado.
O relatório da EIA projeta um crescimento de 3,3% na demanda global em 2025 e 3,7% em 2026 abaixo dos 4,4% observados no ano passado, apesar das tensões comerciais que ameaçam as cadeias de suprimento. Na China, a demanda cresceu 7% em 2024 e deve desacelerar para 5% neste ano. A eletrificação do país impulsionará a expansão da demanda
Nos Estados Unidos, a demanda por energia elétrica será puxada principalmente pelos data centers — que já consumiram 180 TWh em 2024, segundo estimativas da EIA — e pela nova indústria de baterias e semicondutores. O plano do governo de ampliar em 5 GW a capacidade dos reatores nucleares existentes até 2030 reflete tanto a urgência quanto a limitação das alternativas disponíveis.
Se, por um lado, a energia nuclear carrega um histórico de riscos e dificuldades políticas, por outro se mostra hoje como uma das poucas fontes capazes de oferecer energia despachável, estável e de baixo carbono em escala compatível com a demanda crescente da era digital. Não por acaso, gigantes como Meta, Amazon, Google e Microsoft já se comprometeram com investimentos da ordem de US$ 320 bilhões em 2025, em contratos que garantam fornecimento seguro para seus data centers, cuja demanda deve continuar acelerando com a expansão da inteligência artificial.
O movimento de reabertura de usinas, como as da Holtec International e da Constellation, que somam 1,6 GW, ou a reativação da Unidade 1 de Three Mile Island — agora Crane Clean Energy Center — com base em um PPA de 20 anos com a Microsoft, ilustra bem essa guinada pragmática. Ainda que polêmico, o retorno da energia nuclear mostra-se uma resposta imediata a um dilema: como sustentar o crescimento tecnológico sem mergulhar em emissões de carbono ou depender da intermitência das renováveis.
A Duke Energy quer prolongar a vida útil de seus 11 reatores em seis instalações nucleares, enquanto a Constellation busca renovações de 20 anos para suas 21 unidades. São medidas que reforçam o papel da energia nuclear como um pilar necessário — e talvez inevitável — para o equilíbrio energético dos EUA na próxima década.
Na Europa, a energia nuclear vive um momento de redefinição estratégica, marcado por fortes contrastes entre países. De um lado, nações como França e Reino Unido apostam na expansão de seus parques nucleares por meio da construção de novos reatores e extensão da vida útil dos existentes. Do outro lado, países como Alemanha e Bélgica optaram por descomissionar suas usinas, priorizando renováveis, embora enfrentem críticas por maior dependência de gás e carvão em períodos de crise.
O resultado é um cenário fragmentado: enquanto uns veem a energia nuclear como peça central na transição energética, outros a tratam como legado incômodo. As usinas nucleares ainda enfrentam desconfiança, mas sua capacidade de garantir energia confiável em larga escala, sem emissão de carbono, as coloca em posição de destaque no tabuleiro energético. Se os riscos não devem ser subestimados, tampouco se pode ignorar que, diante da explosão da demanda por energia elétrica no mundo, a energia nuclear pode ser menos uma opção e mais uma necessidade estratégica.