Data centers: Oportunidade para o Brasil
A corrida mundial por data centers, impulsionada pela inteligência artificial (IA) e o avanço do processamento de dados é uma janela estratégica que o Brasil não pode se dar ao luxo de ignorar. A demanda energética global tem sido cada vez mais puxada pelas gigantes da tecnologia, movidas pelo apetite voraz de soluções baseadas em IA e aprendizado de máquina. Não é um movimento pontual — é uma transformação estrutural.
Segundo a McKinsey, 72% das empresas já usam IA em pelo menos uma área de atuação. A tendência é irreversível. O impacto energético também. Um simples pedido ao ChatGPT consome quase dez vezes mais energia do que uma busca tradicional. E à medida que a IA se infiltra em todos os aspectos da vida moderna, a demanda elétrica dos data centers deverá crescer de forma exponencial.
Os data centers são, sem exagero, os novos eletrointensivos do século XXI. Unidades com demanda entre 100 MW e 1.000 MW já estão no radar — e várias delas em fase de implantação no Brasil. Só para comparar: o país inteiro tem menos de dez unidades consumidoras acima de 100 MW. Isso mostra o potencial — e também o desafio.
O gargalo está claro: a velocidade de implantação dos data centers (às vezes em menos de dois anos) não combina com o ritmo da expansão do sistema elétrico, que leva de 3 a 10 anos entre usinas, subestações e linhas de transmissão. Esse descompasso pode virar um entrave — ou uma oportunidade, se agirmos agora.
O Brasil está em posição privilegiada, com sobra de energia e capacidade de transmissão. Temos uma matriz predominantemente renovável, uma capacidade instalada de 244 GW, sendo cerca de 120 GW médios de capacidade firme — para uma demanda média de apenas 90 GW. Ou seja, sobra energia, falta mercado.
Esse cenário não durará para sempre. O país precisa enxergar a chance de se tornar um hub global de data centers, capitalizando não só sua energia limpa, mas sua posição geográfica e infraestrutura ociosa. Porém, boas intenções não bastam. É preciso ação coordenada: políticas públicas inteligentes, agilidade na concessão de licenças, celeridade nos projetos de transmissão e segurança regulatória.
Além disso, garantir fontes firmes e despacháveis para complementar eólicas e solares é imperativo. A nova indústria exige fornecimento estável e previsível, e o Brasil precisa estar pronto para entregar isso — sem desculpas.
O momento é de decisão. Com o cenário atual, não há justificativa para o Brasil ficar para trás nessa nova revolução tecnológica. Os sinais estão dados. Quem hesitar, ficará à margem da transformação. O mundo está mudando — e rápido. O Brasil precisa decidir se quer liderar ou apenas assistir.